sábado, novembro 04, 2006

Mais Quatro, Brasil?

No dia 29 de outubro de 2006 brasileiros de todas as regiões, crenças, costumes e classes sociais foram às urnas, exercer seu papel na democracia brasileira cientes das conseqüências da eleição de um ou de outro candidato. Mentira. É falso dizer que a totalidade da população estava ciente das conseqüências da votação. O Brasil pode ser comparado a uma enorme e diferenciada família; tanto é que o candidato vencedor desta eleição é ninguém menos que o “Pai dos Pobres”, e tudo que ele precisou para ganhá-la foi aumentar a mesada de seus desafortunados filhos, quando depois de quatro anos de governo ele poderia colocá-los em escolas, criar um plano de saúde gratuito e decente para eles ou mesmo reformar o orçamento dessa enorme família que chamamos de Brasil. Enquanto nós, do sul do Brasil, que queremos um chefe de família que bote a casa em ordem, ajuste as finanças, tire o peso fiscal de todos os brasileiros e que permita a livre iniciativa na família, nossos irmãos do norte estão em condições tais que para eles basta um chefe de família que mantenha a mesada.

E como era de se esperar, os pobres do Brasil não têm dúvidas sobre a inocência de seu pai no gigantesco esquema de corrupção criado pelos companheiros dele, que se apoderaram de um dinheiro proveniente de todo o povo cujo intento era beneficiar todo o país. Como disse o colunista da Época, Ricardo Neves, somos a Escandináfrica, um país cujos impostos são comparáveis aos de países escandinavos, e cujos serviços são comparáveis aos de países africanos. E a pergunta que não se cala, é por que isto acontece? Dos inúmeros motivos, alguns deles citados pelo colunista, um deles é justamente essa máquina da corrupção que foi reeleita. O governo joga sobre os ombros do contribuinte o peso pelas ineficiências (dentre elas a corrupção) e o custo fica cada vez maior para mantermos um estado obsoleto, com uma economia persistente, porém freqüentemente sufocada pela burocracia e falta de planejamento. As reformas tributária e fiscal eram essenciais para descarregar esse peso e renovar a economia, mas o que tivemos foi uma reforma tributária mal feita e nenhuma reforma fiscal.

Além disso, o presidente mal tentou proteger os interesses dos brasileiros na ocasião da nacionalização das refinarias da Petrobrás na Bolívia. Simplesmente deixou-se levar por semelhanças ideológicas e satisfez-se com um acordo que não afeta a distribuição de gás natural. Obviamente o presidente Lula não entende o conceito de reputação do país. Se o Brasil quiser continuar a ser a nação dominante na América do Sul seu presidente deve zelar pela imagem de seu país. O caso é que o Brasil saiu desse embate com a Bolívia como um país fraco, sem ter tomado providências como encaminhar um processo ao Tribunal Internacional de Haia, ou impor algum tipo de sanção econômica ou política. Morales certamente poderia ter dito que o Brasil de Lula era um “tigre de papel”. E é verdade o velho ditado popular que diz: “se você dá uma mão, vão querer um braço”. Demonstrar fraqueza pode arruinar interesses políticos regionais, daí os abusos argentinos nas negociações do Mercosul. Certos eles, defendendo seus interesses enquanto o Brasil dá espaço para isso.

O Brasil podia ter escolhido um presidente que faria as reformas fiscais, tributárias e políticas que tornariam a economia eficiente e nos poupariam de apelidos como Belíndia ou Escandináfrica. O Brasil podia ter escolhido um presidente que defendesse seus interesses num âmbito internacional, ao invés de um que cedesse às picuinhas ideológicas. O Brasil podia ter escolhido um presidente que, reformando a máquina econômica, poderia empregar vastos contingentes e melhorar a qualidade de vida da população sem ter de investir num plano assistencialista que encarece a manutenção do Estado. Mas não o fez. Se você tentar explicar toda essa conjuntura acima descrita aos sertanejos miseráveis que elegeram Lula, o que você acha que eles entenderiam?A ignorância é imposta a esse povo pela negligência das autoridades, e isso definitivamente favoreceu Lula. Esses eleitores de Lula não têm idéia de como o Brasil poderia ter crescido se Lula não se reelegesse.

Para lutar contra a imagem negativa de seu governo no resto do Brasil, Lula muniu-se de marketing pesado e muitas acusações falsas para recuperar os votos da esquerda traída pelo PT. Por mais que seja ilógica a privatização de instituições tão lucrativas quanto o Banco Central ou a Petrobrás (pois privatizações são feitas apenas com empresas que deixam de lucrar como deveriam), e por mais que Alckmin negasse categoricamente todas essas acusações infundadas, Lula insistentemente repetia essas acusações, e era tudo o que a esquerda precisava para reavivar suas esperanças no atual presidente. Lula foi inteligente, soube recuperar seus eleitores ao tocar no ponto fraco de cada um deles.

Não há muito a ser feito agora. As eleições se encerraram, e só podemos esperar pelo fim dos quatro anos. Mas com o congresso dividido como está, é bem possível que ocorra uma crise política, exatamente no momento em que deveria haver convergência entre os dois lados para a elaboração da reforma política. Provavelmente isso ocorreria sob a chefia de Alckmin também, é bem menos provável que Lula faça as reformas econômicas necessárias para estabilizar o país. Então esperemos que o povo descubra de vez quem é Lula nesses quatro anos que se seguem e que o povo vote consciente próxima vez, sem ser iludido por jogadas políticas infames como as utilizadas nesta eleição.

3 Comments:

At novembro 05, 2006, Anonymous Anônimo said...

O Brasil podia (ou poderia) ter escolhido um presidente que representasse a classe média e a alta (e ainda não estou tão certo quanto à classe média).

Ou podia (ou poderia), e escolheu, um presidente que representasse a classe média (segundo eles mesmos) e a baixa (mas não estou tão certo quanto a média, nem quanto à representação em si).

O resultado das eleições, para mim, para vocês caros escritores um tanto doutrinados, também, será o mesmo que se sucede desde que o Brasil tornou-se república, nenhum.

A democracia seria bem vinda num lugar onde não 'imperasse' a vontade individual (o que é o caso constante de todos os políticos que assolam nossa nação).

Por falar em doutrinação, seus textos, que tanto referem-se à essa questão, acabam mais por querer doutrinar do que criticar a doutrinação em si.

Utilize o 'liberalismo' para sair dessa prisão mental que é bem mais interessante do que simplesmente criticar as pessoas que possuem ideário diferente dos seus (o que todo o doutrinador faz e, diferente de vocês, faz bem feito, pois conseguem realmente doutrinar pessoas).

No mais, o blog ficou muito bem disposto, os textos parecem até sérios, a Estátua da Liberdade remete-me ao Civilization, e, PRINCIPALMENTE, divulguem isso, pois não adianta muita coisa ter um blog, ter textos e não ter leitores...

Ah sim, antes que me esqueça, vocês lêem realmente comentários?

"Cobram tanto a imparcialidade, mas não passam de pedaços de pizza." - Antoine Demonet

 
At novembro 06, 2006, Blogger Carta Liberal said...

Caro "vai me censurar?", não sei por que vocês insistem tanto em dizer que censuramos outras opiniões. Estamos aqui para fazer fluir a dialética, e de acordo com nossas regras LIBERAIS, críticas são bem-vindas. Críticas, não besteiras.

Segundo o Manifesto Liberal (verifique em Previous Posts), nós tivemos o bom senso ético de avisar aos leitores que nossos textos são orientados pela ótica liberal, com uma série de argumentos sobre os temas. De forma alguma, portanto, como veículo de comunicação, podemos ser imparciais. Nós formamos opiniões. Diferente das escolas, que devem, de acordo com a Constituição, ser imparciais. Segue o texto de um jornalista, que confirma isso.

"É desejável, para um jornalista, para um órgão de comunicação uma postura de neutralidade. (...) "Neutro" a favor de quem? (...) "Imparcial" contra quem? (...) "Isento" para que lado? (...) Assim é defensável que o jornalismo, ao contrário do que muitos preconizam, deve ser não-neutro, não-imparcial e não-isento diante dos fatos da realidade. E em que momento o jornalismo deve tomar posição? Na orientação para a ação. O órgão de comunicação não apenas pode, mas deve orientar seus leitores/espectadores, a sociedade, na formação de opinião, na tomada de posição e na ação concreta como seres humanos e cidadãos". - Perseu Abramo

 
At novembro 14, 2006, Anonymous Anônimo said...

um erro não justifica o outro... ;)

 

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