quinta-feira, julho 26, 2007

Fundamentalismo Político

“Antes gostávamos de dizer que a direita era estúpida, mas hoje em dia não conheço nada mais estúpido que a esquerda”

José Saramago

É normal, em nossos primeiros dias de contato com o mundo exterior, seja na sala de aula do ensino fundamental, seja andando pelas ruas do centro de São Paulo, ficarmos sabendo da existência de pessoas que vivem em condições de pobreza e falta de oportunidades. Uma de nossas primeiras reações, não que seja esta exclusivamente, é manifestar emoções de pena, de revolta perante o “sistema”, de palavras frias e vazias como “onde está o Governo” ou “por que a sociedade não faz algo para ajudá-las?”.

Existe uma certa classe, se é que assim podemos chamar, (ou grupo, ou “grupelho” como preferem alguns) que possui propostas rápidas e “eficazes” como eles mesmos dizem. São essas: Tirar dos que têm tudo, para dar àqueles que nada têm; Eleger representantes do povo (ou dos operários, incrível como ainda dizem que eles existem) que sendo eles conduzidos ao poder, “girarão” a roda da História e destruirão o sistema carcomido pelo tempo. Ou mais “pragmático”: retirarão a “elite” (ou A ZELITE) dominante do governo, e como o governo tudo pode e tudo faz, num passe de mágica os problemas estarão resolvidos; após a retirada das elites, parar de pagar a “bolsa banqueiro” (essa foi original, uma das poucas coisas que vi que achei engraçado) e com o dinheiro construir casas para os pobres.

Todos conhecemos quem faz essas propostas. São os paladinos da esperança, os defensores dos pobres e oprimidos, aqueles que lutam pelos “direitos” de todos. Bem-vindo ao mundo mágico da Esquerda.

O termo “esquerda” tem uma carga semântica muito diversificada. Passou desde designar aqueles que se sentavam à esquerda no Legislativo francês (Revolução Francesa) a aqueles preocupados com o “desenvolvimento social” e “responsabilidade ambiental”.

A esquerda brasileira é muito burra. Sem perdão da palavra. É burra mesmo. Para desenvolver melhor essa tese (acho que seria constatação) utilizarei alguns exemplos.

03 de maio de 2007. São Paulo. Invasão da reitoria da USP. Motivo: Crescente tentativa do governo estadual paulista de “intervir” e ameaçar a autonomia da universidade.

07/08 de julho de 2007. Eleição de Lúcia Stumpf para a presidência da UNE, com promessas de “radicalizar” o movimento estudantil e criar o Dia Nacional de Invasão das Reitorias.

O que esses “diferentes” assuntos têm em comum? O domínio de uma casta de partidos de esquerda (notadamente PC do B na UNE e PSOL e PSTU na invasão da reitoria) entre o tal de movimento estudantil. Qual o problema disso? Nenhum. É normal em democracias os estudantes terem sua liberdade de escolha para definir seu posicionamento ideológico. Isso se o Brasil fosse uma Democracia. No caso da USP, as reuniões de “movimentos estudantis” atingem cada vez menos pessoas. Será que é por que a pauta e os discursos da reunião são utilizados por representantes desses mesmos partidos citados acima para fazerem divagações ideológicas e discussões como “se o pebolim é um jogo burguês?” Não há estudante não “politizado” que agüente. Como bem diz o ditado “os incomodados que se mudem”, esses estudantes acabam abandonando o movimento estudantil à liderança desses hábeis políticos. A partir daí, eles utilizam o místico movimento estudantil como meio para promoção pessoal. Quem no passado não achava lindo os estudantes unidos para derrubar corruptos como Fernando Collor ou a ditadura militar? É por isso que muitos sociólogos dizem que os novos jovens de classe média, como aqueles que invadiram a reitoria da USP são os novos pobres: de esperança e de boas causas (Frase de José de Souza Martins, professor de Sociologia da FFLCH da USP, em entrevista ao caderno Aliás de O Estado de S. Paulo de 27 de maio de 2007).

Quanto a UNE: Não vemos lá ninguém de direita. Pela sétima vez seguida um candidato filiado ao PC do B é eleito. Alguém sabe o que a UNE faz hoje em dia, além de reclamar da quebra de monopólio das carteirinhas de estudantes que o permitem pagar meia em ônibus e cinemas? (queremos o monopólio, pois são essas contribuições que ajudam a pagar nossos Congressos e viagens, diz Lúcia Stumpf). Alguém em sã consciência pagaria para um bando de “filhinhos de papai” viajar para fazer Congressos úteis para o desenvolvimento da sociedade, como definir se a Reforma Universitária é imposição do FMI ou não?

O resultado da invasão da reitoria: Vários computadores roubados e desorganização geral da reitoria. Resultado da existência da UNE: “puxa-sacos” do governo federal.

Além da promoção pessoal que membros da esquerda procuram hoje, temos a excessiva ideologização dos membros dela. Que atire uma pedra quem nunca ouviu alguém do governo falar que são perseguidos pela imprensa ou a ZELITE tenta algum golpe. Na União Soviética, os Comissários responsáveis, por exemplo, pelas fábricas, arrancavam os cabelos e falavam em sabotagens da burguesia, quando descobriam que as fábricas não produziam o necessário. “Como pode se eu pessoalmente conferi tudo, os trabalhadores tem a moral alta e acima de tudo, a ideologia está correta?” Era uma das frases mais comuns daquele tempo. (para quem não acredita leia: Stálin, a corte do Czar vermelho, de Simon Sebag Montefiore, editora Companhia das Letras) Não me impressiona se os “comissários” da Anac ou do governo federal digam o mesmo sobre a Crise Aérea.

A ideologização se faz presente na diplomacia também. O exemplo mais explícito disso é o convite à Chávez, o ditador carismático do momento, para ingressar no Mercosul. “A União Européia também aceita países com economias fracas para que possam ter a chance de se desenvolver conjuntamente” Celso Amorim. Alguém esqueceu de avisá-lo que o estatuto da União Européia diz claramente que o país precisa ter liberdade de expressão, de imprensa, democracia, e reformas liberais para ingressar. O Mercosul também, só que “alguém” se esqueceu disso. Como pode uma pessoa em sã consciência convidar um doido que xinga metade do mundo (inclusive o Brasil) e alia-se ao Irã para o Mercosul? A ideologia faz milagres mesmo. O fundamentalismo também, vide o islâmico de hoje.

Outro exemplo da influência da ideologia é a divinização de Cuba e de seu ditador, Fidel Castro. A esquerda se especializou em eleger mártires e ídolos, que ao imporem seu ponto de vista ou trucidar instituições democráticas a esquerda simplesmente fecha os olhos e aprova como ação “social” pelo bem do povo. Quantas pessoas dizem que a ilha de Fidel é um paraíso? Mas não precisaremos ir muito longe para obter as respostas. Basta ir a São Caetano do Sul e perguntar ao “traidor” cubano como ele se sente. Se ele veio pedir asilo ao BRASIL, muito provavelmente Cuba não seja tão boa assim.

Ideologia, culto, bíblia (O Capital) e recrutamento de jovens (nesse caso das Universidades). A esquerda não difere muito do fundamentalismo religioso. Terroristas ambos têm. Algo de bom na cabeça, nenhum deles.

terça-feira, julho 03, 2007

Subdesenvolvimento: uma teoria

Retornamos!

Por diversos motivos (alguns deles não tão nobres) ficamos afastados do blog por algum tempo. No entanto, agora que já dedicamos a pequena parcela de tempo anual necessária para manter nosso Estado funcionando de maneira impecável - como, aliás, sempre funcionou, coisa que todo brasileiro sabe! - vamos voltar a publicar textos.

Sinceramente,

-Carta Liberal



A procura por motivos para o baixo nível de desenvolvimento de várias sociedades do planeta movimenta um número incrível de intelectuais. Eles se dividiram em grupos, cada um deles com uma “grande teoria” geral para explicar o fato de certas regiões apresentarem uma economia mais produtiva, uma expectativa de vida mais alta, uma população que desfruta de uma vida mais confortável.

Defender ou criticar uma ou mais dessas “escolas” não é o objetivo aqui.

A grande maioria dos fatores relevantes para o nível de “desenvolvimento” de uma sociedade está nessa própria sociedade, isto é, são as próprias pessoas que constroem a “fundação” sobre a qual viverão. Sua atividade produtiva cria o que o grupo de pessoas em questão usará. Por definição, a atividade de um indivíduo dentro da referida sociedade interessa a alguém: ou ele mesmo, ou outras pessoas.

Nos primórdios, acredita-se que cada pessoa – ou, pelo menos, cada tribo – era subsistente: retiravam eles mesmos da natureza tudo o que era necessário ou agradável. À medida que a civilização prosperava, os indivíduos começaram a se especializar e realizar trocas. Assim, a quantidade de bens necessários à subsistência aumentou, e muitos puderam se especializar em outras atividades que não estavam diretamente relacionadas à produção de necessidades básicas.

Esse é um momento interessante na história da civilização: a hora em que os produtores passaram a sustentar “acessórios” à sua atividade. Note que essa é uma visão diferente da que boa parte dos membros das sociedades modernas adotam: na atualidade, muitos dos que fazem parte diretamente do processo produtivo são vistos como indivíduos de “segunda classe”. No entanto, eles sempre serão necessários, e por isso são aqui considerados como “primários”.
A civilização continuou a se tornar mais complexa com o passar do tempo, e as atividades se diversificaram. Muitas delas foram se distanciando da produção primária até se tornarem praticamente alheias a esta. Como maior exemplo temos os intelectuais: indivíduos que se dedicam à reflexão e ao debate em torno de temas freqüentemente muito distantes do “mundo real”.


Este é o ponto ao qual queríamos chegar. Como dissemos, tudo o que uma sociedade produz, obviamente, deve ser fruto do esforço de algum(ns) membro(s) dessa sociedade – sendo que esses frutos não são necessariamente palpáveis. A valorização de uma atividade, portanto, é crucial para que o produto dela seja mais abundante e de maior qualidade.
Através da história, a cultura humana passou por um processo de diferenciação de tirar o fôlego, com a formação de uma míriade de formas de pensar. Algumas delas valorizavam o valor do guerreiro; outras, o refino intelectual; e outras, a produtividade. Que fique claro: cada indivíduo tem sua própria forma de pensar, que de maneira alguma está acorrentada à dos demais que o rodeiam, e que pode variar de muito mais maneiras do que simplesmente qual aspecto da vida ela mais valoriza.

No entanto, via de regra, podemos assumir que uma sociedade tem uma cultura relativamente homogênea. Com o surgimento do Estado, aqueles com maior influência passaram a ter poder – pela força – sobre os outros, freqüentemente acompanhado de uma justificativa, e passaram a artificialmente manipular a alocação de recursos da forma que mais agradasse o grupo. É notável como os produtores foram capazes de sustentar sociedades onde grande parte dos indivíduos se dedicava a atividades secundárias.

Tomando como exemplo Portugal, a sociedade que em grande parte deu origem à nossa, observamos uma fortíssima tendência à valorização da jurisprudência, da política, da escrita, etc., e aqueles que “punham a mão na massa” eram geralmente vistos como indivíduos de pouco valor. Apesar de isso ser regra em grande parte das sociedades, e tem sido há um bom tempo, a portuguesa em particular mostra uma forte tendência da nata da sociedade para atividades mais intelectualizadas.

Entre os personagens notáveis da História portuguesa, ouvimos falar de pouquíssimos empreendedores, engenheiros, inventores e etc. E enqüanto muitos consideram outras culturas hoje mais desenvolvidas como sendo intelectualmente pobres em relação à portuguesa há alguns séculos, os indivíduos notáveis daquelas sociedades estavam com sua atenção voltada à exploração, ao comércio, à expansão da atividade produtiva; e mesmo muitos dos intelectuais delas ganhavam seu pão de uma maneira bastante pragmática.

Essa tendência se acentua fortemente ao chegarmos ao século XIX: enquanto no Norte hoje desenvolvido a sociedade industrial explodia com novas idéias, a ciência caminhava a passos largos, e a qualidade de vida aumentava entre os setores menos avantajados, nos países latinos em grande parte se verifica uma persistência no modelo do intelectual glorioso: todos os indivíduos que se prezavam eram escritores, “homens públicos”, juízes afamados, escreviam artigos sofisticados em jornais. Não por acaso, as sociedades que seguiram este último modelo parecem ter perdido o trem da História.

Na África, vários povos pertencem a uma cultura de valorização do guerreiro; muitos indivíduos se especializam em participar de conflitos. Apesar de ter sido assim por eras, as sociedades hoje consideradas mais evoluídas arregalam os olhos quando tomam consciência dos horrores que a população daquele continente atravessa – horrores muitas vezes criados pelos próprios povos e líderes da região.

É comum culpar o imperialismo europeu pelo estado deplorável da África atual, mas devemos lembrar que a fragmentação européia da África, quando muito, apenas piorou o quadro: os africanos são guerreiros por sua cultura, e os clãs africanos têm Um grande objetivo: subjugar seus oponentes. Apesar de serem militarmente fracos devido às características da guerra moderna, em que tecnologia e tática contam muito mais do que ferocidade e astúcia, muitos africanos se tornaram grandes guerreiros, que seriam respeitados e temidos, por exemplo, na Europa medieval. Isso porque o status de guerreiro garante prestígio na sociedade africana.

Tudo isso não significa, de maneira alguma, que intelectuais e guerreiros são seres inúteis que devem ser desprezados por aqueles que realmente fazem parte do processo produtivo. Como foi dito, os indivíduos que são acessórios ao processo produtivo primário estão realizando suas atividades porque alguém as valoriza. Um ator, um historiador, um crítico literário realizam seu trabalho porque ele interessa a alguém. A questão que se levanta é: a quem?

Muitos políticos, imbuídos como estão com o poder de direcionar boa parte dos recursos da sociedade para onde bem entenderem, os direcionam para setores que, sem a ajuda estatal, simplesmente não existiriam ou não teriam o tamanho que têm. Apesar de o Estado ser – e isso não é unânime – necessário para redirecionar recursos para certos fins públicos importantes, é preciso ter em mente que o papel do Estado não é dirigir a sociedade para onde achar melhor através da redistribuição forçada de recursos, mas sim criar condições para que cada indivíduo possa realizar a atividade que ele julgar adequada, sem prejudicar a liberdade alheia.

Lembremos também que, se 100% dos indivíduos desejam ser historiadores, nem todos eles poderão sê-lo: afinal de contas, também é necessário comer, vestir, construir, se divertir. O fator que define a alocação de indivíduos em determinada atividade não deve ser a vontade do próprio indivíduo, mas sim a procura que existe por alguém que realize tal atividade. Em outr
as palavras, seria ótimo se cada um de nós pudesse ser o que bem entendesse, mas, ainda pior do que ser algo que não se deseja é forçar alguém a trabalhar por algo que não deseja.

Quando o Estado realoca recursos arbitrariamente, existe uma grande chance de ele estar destruindo a ordem natural e desejável das relações voluntárias que existe entre as várias atividades de uma sociedade. Essa redistribuição através da coerção, quando generalizada, indica que grande parte da riqueza gerada por uma sociedade está sendo canalizada para fins que muito provavelmente não gerarão riqueza, pois de outra forma não necessitariam dessa intervenção arbitrária.