As Crias do Comunismo
O século XX foi marcado por grandes eventos, cada um deles causado pelo anterior. Nessa era de mudanças, um período que se destacou foi a Guerra Fria. Conseqüência direta do fim das grandes guerras, a Guerra Fria foi protagonizada pelas duas grandes potências da época: Estados Unidos e União Soviética. Os Estados Unidos era um país que mantinha um regime democrático havia séculos, no qual as pessoas manifestavam seus interesses pela voz dos políticos. Em contrapartida, a União Soviética fora criada no século XX, resultado de um conturbado processo político no qual o Estado passou a concentrar todos os poderes, negando representação à maioria de seus habitantes. Foi um período negro na história de muitos russos, e ainda hoje vários relutam em lembrar esse passado, mesmo que infelizmente ainda existam muitos outros que gostariam de voltar ao passado soviético. Durante a Guerra Fria, ambas potências competiam por influência ao redor do globo com todas as armas que dispunham, o que resultou na “conversão” de alguns países tipicamente capitalistas em socialistas, e na popularização da ideologia comunista ao redor do globo. Mas o regime soviético da Rússia não conseguiu viver sob seu próprio projeto econômico, e acabou sendo forçado a fazer reformas que iam contra sua ideologia, culminando com seu próprio fim, em 1991.
Hoje vivemos uma nova era, na qual o medo não impera. Mas a União Soviética deixou suas crias pelo mundo, na forma de partidos de extrema esquerda, regimes agressivos e autocráticos, jurássicos movimentos “revolucionários”, e toda a ideologia antiglobalização e antiprogresso que é passada à juventude logo nas escolas. Tudo isso sobrevive com base numa paranóia que põe arreios nas pessoas que seguem tais ideologias. A idéia deste texto é justamente provar que essa ideologia não faz mais sentido nos tempos atuais, se é que um dia chegou a fazer sentido.
Dentre os regimes que tiveram origem no comunismo soviético, Cuba é um dos mais clássicos. Cuba é uma ilha no Caribe que sofreu uma revolução no final dos anos 50, e que foi posteriormente influenciada pelos ideais socialistas soviéticos, já nos anos 60. Desde então, Castro e seus comparsas arrastaram Cuba por uma longa jornada rumo à estupidez, estatizando a grande maioria das empresas e condenando ao paredón várias pessoas acusadas de “trair” o movimento; tal repressão eventualmente levou à formação da comunidade de refugiados cubanos na Flórida.
Por volta dos anos 70, Canadá e México quebraram o embargo contra Cuba, alegando tentar incentivar o liberalismo em Cuba, continuando com o intercâmbio cultural e econômico de outrora, mas de nada adiantou, pois a cúpula comunista não desiste do poder do mesmo jeito que um cão não larga seu osso. Nos anos 90, com a queda da União Soviética, de quem Cuba dependia economicamente, Cuba passou por uma crise. O modelo que os inspirara acabava de ruir diante dos olhos do mundo inteiro, e eles afundavam em uma crise econômica. Mesmo assim, a cúpula não quer sair voluntariamente do poder, e continua com sua ideologia falha e seu regime autoritário; Cuba só têm a perder com isso. Para não deixar as pessoas esquecerem que eles estão no “caminho certo”, o regime faz sua propaganda, com base em investimentos ineficientes na área da educação e da saúde (áreas que seriam muito mais desenvolvidas num regime capitalista eficiente); e mesmo com toda a medicina cubana, o médico de Fidel é espanhol.Alguns cubanos estão dispostos a enfrentar uma verdadeira maratona para a liberdade, seja desertando uma competição esportiva em solo estrangeiro (como nos jogos pan-americanos deste ano), seja fazendo o decatlo rumo a Miami. E se o governo põe as mãos nesses “traidores do movimento”, aí eles estão com problemas. Que tipo de progresso é esse, onde as pessoas são coagidas a não sair de um país em ruínas pela força? Ainda assim o regime de Castro sobrevive, agora influenciando a próxima geração de populistas latino-americanos, esta mais hipócrita que a anterior.
Um de seus maiores expoentes é o presidente venezuelano Hugo Chávez. Depois de seguir carreira como oficial do exército, fundou um movimento esquerdista após a sua fracassada tentativa de dar um golpe de estado e foi eleito presidente em 1998. Durante seu mandato suas principais medidas foram para modificar a máquina eleitoral de modo que ele permanecesse no poder por mais tempo. Com todo o tempo do mundo para fazer sua “revolução”, Chávez começou por estatizar os setores básicos da economia, como alimentos e energia. No setor de alimentos criou sua própria grande empresa de alimentos e perecíveis (Mercal), que ele usa para divulgar sua imagem e seus feitos produzidos. A competição desleal desta empresa, que conta com o apoio do estado e das leis, arruinou a classe média venezuelana que tinha pequenos negócios locais, tirando do povo o poder político e agora o econômico atrelando todo o povo venezuelano ao governo. Com a população dependente do governo, Chávez tem total poder sobre as decisões a ser tomadas com respeito à Venezuela, e reforça esse poder com mecanismos legais para ir prolongando indefinidamente sua estadia na presidência.
No setor de energia ele nacionalizou o gás e o petróleo, se apossando de recursos pertencentes ao povo venezuelano (e não ao estado), usando o dinheiro desses recursos para expandir sua influência no mundo financiando a dívida argentina, fazendo doações a minorias nos Estados Unidos, dentre outras “ações humanitárias”, que visam acima de tudo angariar apoio à causa chavista (lhe valendo a alcunha de “cafetão do petróleo”, pelo New York Times). E o pior é que esse investimento é praticamente o único que está dando retorno: alguns “intelectuais” no exterior dão seu apoio ao chavismo e acabam influenciando lá mesmo as novas gerações que ainda estão formando sua opinião, mesmo sem ter idéia do que se passa na Venezuela, fomentando assim, a conivência internacional.
A censura à imprensa é pesada. Chávez criou estatais da imprensa que não têm outra função senão informar às pessoas o que ele quer que elas saibam, e as outras quatro redes de televisão privadas sofrem com regulamentações autoritárias, como a “lei de responsabilidade social”, que é um bonito nome para censura, nua e crua. Quem criticar oficiais venezuelanos pode ser preso por até 40 meses segundo um decreto de 2005. Quando questionado se ele tinha a intenção de usar esse mecanismo contra as críticas da imprensa privada (na qual ele ainda não conseguiu por as mãos), ele disse que não ligava para o que ela dizia, e citou Dom Quixote “Se os cães ladram, é porque estamos trabalhando”. Independentemente da intenção dessa resposta, disso podemos tirar uma boa metáfora: o mesmo Dom Quixote que se jogou contra um moinho pensando que era um gigante é a inspiração para Hugo Chávez que se joga contra a globalização.Como o moinho, a globalização é produtiva e beneficia a todos em uma sociedade. Como Don Quixote, Chávez acredita piamente que está certo em seus devaneios, cego por sua própria vontade. Ele recusa-se a desistir de um modelo econômico e político que já falhou anteriormente em outros lugares. Em outras palavras, está louco como o personagem de Cervantes.Em 2006, Chávez decidiu não renovar a licença de uma das redes de televisão privadas, acusando-a de suportar causas golpistas.A Freedom House, associação internacional que mede o nível de liberdade de imprensa, baixou o nível da Venezuela de parcialmente livre para não livre. Com a imprensa em uma mão e a máquina legislativa em outra, Chávez consolida ainda mais seu poder, planejando reformas que garantam sua reeleição em 2012. O que incomoda mais é que essa revolução bolivariana mal teria sucesso se não fosse pelo petróleo e seus preços
Outro populista radical na América Latina é o cocaleiro Evo Morales, que usa os hidrocarbonetos da Bolívia como arma política da mesma maneira que Chávez usa o petróleo, o que nos remete à demonstração boliviana de soberania ao usar soldados do exército para expulsar os brasileiros das instalações da Petrobrás que ele nacionalizou. Nacionalizar já é uma quebra de contrato e portanto um ato desrespeitoso, mas usar o exército para intimidar os funcionários pode ser entendido diplomaticamente como um insulto. Morales chegou ao poder liderando o movimento dos cocaleros, que são contra os esforços para a erradicação do plantio da folha de coca, que garantiram o apoio popular. Agora ele é apenas mais um peão de Castro na política latino-americana, juntamente com o presidente do Equador há pouco tempo eleito (certamente com ajuda dos vizinhos vermelhos), Rafael Correa. Castro disse no forum marxista
E quanto à ideologia por trás dessas aberrações políticas? Como já foi dito, todas tem origem no comunismo, o que é provado pelo vasto número de partidos comunistas mundo afora. Suas reivindicações costumam seguir a linha marxista original, especialmente em países latinos. Para eles o estado é o melhor instrumento para equilibrar o nível de vida das pessoas, mas eles não enxergam o quão corrupto um estado se torna quando tem em mãos um grande montante de capital; na verdade muitas medidas de equilíbrio de renda são apenas medidas para tornar as pessoas dependentes do governo, como vimos no caso da Venezuela. O estado deveria intervir apenas em casos graves, como cartéis, monopólios e fraudes. Mas para a esquerda latina, vale a máxima de Maquiavel: “Os fins justificam os meios”; o estado tudo pode enquanto as intenções forem boas, ou pelo menos enquanto o povo achar que são.
Tal ideologia acaba unindo vários setores opostos à globalização, como ocorre no Brasil: sindicatos de trabalhadores, movimentos rurais e associações estudantis são usados como ferramentas para avançar a causa esquerdista ao invés de exercerem suas funções originais (defender os direitos de suas respectivas classes). Em épocas de governos de direita, opõem-se às mudanças com medo de perder seus benefícios; em épocas de governos de esquerda, fazem pressão no governo para ganhar mais benefícios. São parasitas que desviam recursos produzidos por todos nós para seus interesses mesquinhos. A esquerda latina não consegue mais encontrar lugar num mundo globalizado, e insiste em manter ideais que arruinaram vários países durante a Guerra Fria. Esta é a hora de a esquerda se modernizar, abandonando esses ideais e se tornando mais pragmática, como lentamente ocorreu na Europa durante o pós-guerra. Se a esquerda não aceitar e se adaptar à globalização, ela simplesmente não vai ter lugar neste século XXI.