quinta-feira, outubro 26, 2006

As Privatizações e a Novilíngua Petista

“Ignorância é Força"
George Orwell

Já há algum tempo, circula na Internet um livreto denominado “Novíssimo Dicionário de Novilíngua Petista”, em alusão à obra de George Orwell. A princípio, parece mais um desses spams de humor. Mas a coisa é mais séria do que parece... Além dos primeiros verbetes desse dicionário, pensei que poderia acrescentar dois. Um deles é golpista. Golpista é aquele que preza pela justiça, tenta desmascarar e punir políticos corruptos. O outro, que no caso é bem mais grave, pois mexe com o imaginário do povão e já está completamente disseminado como um verdadeiro dogma, é privatizar. Privatizar é vender o patrimônio do povo, é entregar o que é nosso aos porcos capitalistas que conquistaram algo na vida com muito esforço e que geram empregos, é possuir chifres e uma cauda vermelha com uma seta na ponta, é destruir, é fazer o pacto com Mefistófeles. Não interessa se é bom ou não.

Uma prova disso é a campanha eleitoral, principalmente do segundo turno. Já repararam? Ela se baseia assim: Fernando Henrique Cardoso, do partido do Alckmin, privatizou mais de setenta empresas. Geraldo Alckmin privatizou um monte de empresas em São Paulo. Lula afirma que não vai privatizar mais nada. Diz também que o apedeuta não privatizaria a Vale e as Teles. Mas não há discussão alguma. Ninguém discute nem explica se é ou não interessante para o país, analisa os resultados das anteriores ou faz uma perspectiva para futuras privatizações. Para quê, não é mesmo? Afinal de contas, todo o povo já sabe que são maléficas e demoníacas. O pior de tudo é quando o candidato da oposição não tem mais o que fazer a não ser concordar com isso e se entregar a essas idéias, tal a situação criada em nosso país. É a Novilíngua Petista!

Vamos nos concentrar nas empresas que a propaganda Lulista nos aponta: CVRD e a Teles.

A Companhia Vale do Rio Doce foi privatizada em 1997, vendida para a Companhia Siderúrgica Nacional – CSN -, em leilão realizado na Bolsa de Valores do Rio de Janeiro. O leilão contou com a participação de várias empresas e 41,73% das ações ordinárias do Governo Federal foram adquiridas pela referida empresa por US$ 3,3 bilhões. O vermelho não pode deixar uma prática dessa passar em banco. Devem, então, arranjar alguma desculpa para criticar a privatização. E a desculpa, como ouvimos a toda hora, é o “preço de banana” pelo qual ela foi vendida. Os vermelhos dizem que uma empresa que vale hoje R$ 100 bilhões de reais não poderia ser vendida por tão pouco. Ora, quem diz isso só pode possuir algum dom especial. Como saber se uma empresa vai crescer? Só com o tempo e com muita luta por eficiência! Se a posição atual da Vale era tão óbvia, por que as outras empresas que participaram do leilão não pagaram mais? Afinal, estava a preço de banana e é claro que elas também gostariam de lucrar tanto, não? Risco! O mundo do mercado e do empresariado é marcado por essa coisa chamada risco. Por essa coisa chamada coragem. E é exatamente isso que a esquerda critica desesperadamente, é medo.

Mais ainda: mesmo assim, boa parte do capital da CVRD pertence ao BNDES e fundos de pensão. Mais de um milhão de pequenos acionistas, trabalhadores que fazem seus FGTS duplicarem, triplicarem, quadruplicarem e até quintuplicarem com os rendimentos. Resultados? Desses então, não precisaríamos nem falar. Hoje ela está em inúmeros estados brasileiros, cinco continentes, um lucro que pulou de R$ 500 milhões ao ano para R$ 10 bilhões. É, seguramente, uma das que mais geram EMPREGOS no país, cerca de 44 MIL diretos contra 11 mil em 1996 e mais 93 MIL indiretos. Agora mesmo, 24 de outubro, saiu a notícia que a canadense Inco teve mais de 80% das ações adquiridas pela Vale, o que a torna a segunda maior mineradora do mundo. Dizer o quê? Seria praticamente impossível essa notícia se a CVRD fosse estatal, pois não teria como investir. No entanto, todos os anos são bilhões e bilhões de reais de impostos ao governo com a empresa privatizada. Nada mau! Mau é para os petistas que querem abrigar seus correligionários fracassados e criam milhares e milhares de cargos de confiança, abrindo ainda mais espaço para a corrupção.

E o Lula disse que não privatizaria! Ora, quer mais que as Teles, que ele disse que também não privatizaria? Antes era um terror conseguir uma linha telefônica, havia até leilões! Preços altíssimos, uma espera semelhante à do cometa Halley. Hoje ligam em nossas casas oferecendo uma segunda linha. Já são mais de 90 milhões de telefones celular no país! No setor de empregos, mais de 100 MIL postos já foram criados pelas Telecomunicações após a privatização. Será que isso não é inclusão? Será que isso vai realmente contra os interesses do país como pregam os petistas? E tudo isso com um contrato sério e uma agência reguladora responsável por não permitir nenhuma sacanagem.

Como se vê, só uma mente completamente fechada pode caminhar na contrapartida. Como disse recentemente o economista Rodrigo Constantino, a gente ainda está discutindo se a Terra é redonda ou quadrada e chegamos à conclusão de que é quadrada! Quando o Estado é empresário, a corrupção atinge um potencial muito maior, que vai desde dinheiro desviado para campanhas, propinas (como nos correios), cargos de confiança para abrigar os “companheiros”, até superaposentadorias para os funcionários públicos. Isso fora a administração ineficiente, gastos exorbitantes e inibição de investimentos externos. É disso que Lula se declara a favor quando diz que não privatizaria.

sexta-feira, outubro 13, 2006

Democracia para quê?

“A Democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas”
Winston Churchill


No Brasil, uma Democracia jovem, é quase normal culpá-la pelos males atuais. Eleições de “celebridades”, como Clodovil, Frank Aguiar e Agnaldo Timóteo, ou até corruptos declarados, como Maluf e a Turma do Mensalão, são vistos como brechas no Sistema Democrático, e a Ditadura como solução para impedir a posse de corruptos e a existência de eleitores tidos como “ignorantes”.

A Democracia é um Regime de Discenso, ou seja, utiliza a dialética e a constante crítica para melhorar a sociedade. Os Parlamentos seguem a regra de discutir e depois aprovar projetos, diferente dos Regimes de Consenso, como as Ditaduras, que “idiotizam” os cidadãos com programas de desinteresse pela Política e pela defesa da cidadania. Seus atos são justificados por líderes com nomes pomposos (como o “Grande Timoneiro”, “Führer” e “Pai dos Pobres”) como políticas de “Salvamento da Nação” e verdades absolutas.

Infelizmente na Democracia Brasileira foram eleitos diversos Presidentes e Parlamentares completamente ignorantes. Entraram e usaram a máquina pública para o bem pessoal ou de seu partido. Vide Sarney, que segurou a inflação até as eleições para Governadores, Collor, que roubou o Estado e Lula, que terminou de roubar e criou programas absolutamente eficientes e fomentadores do desenvolvimento do Brasil, como o Fome Zero e a Cueca Cheia (de membros do governo).

Outro problema é que a Democracia Brasileira falha no sentido de permitir a eleição do candidato com projetos populistas e de formação de currais eleitorais, como o Bolsa-Família. Não há impedimento contra isso. Aquele que prometer mais gastos públicos, mais dinheiro aos pobres e demonizar os Estados Unidos com motivos puramente ideológicos ganha com certeza.

E se a Democracia é um Regime de Discenso, por que ela não impede a eleição de analfabetos sem experiência de governo e corruptos com projetos populistas, que seriam desmascarados e derrotados pela dialética? Simples. Não é culpa do Sistema. A Democracia foi moldada com base nos Direitos Naturais de Liberdade, Direito de Expressão e Representatividade. São valores universais. Se o parlamentar ou governante foi eleito, de acordo com nossos valores, ele tem o direito (e o dever) de representar-nos, pois a maioria da população o quer como Presidente, Governador ou Deputado. Se Maluf foi eleito, é porque seus eleitores acreditam que ele é o melhor para representá-los e ninguém nesse mundo pode falar o contrário. Mesmo assim, a Democracia continua imperfeita. Ela não garante a impugnação de corruptos e incompetentes. Mas permite a sua demissão.

quinta-feira, outubro 12, 2006

Os Excluídos dos Cofres do Estado

Um dos principais temas de debate político em todo lugar diz respeito aos pobres, ou, no linguajar politicamente correto de hoje, os “excluídos socialmente”. Não há um candidato que não fale de sua preocupação com políticas de inclusão social, e os que podem ressaltam suas origens humildes, pois isso atrai a simpatia do eleitorado.

Se o fato de ter origem humilde torna um candidato mais competente no que concerne a colocar o Estado Brasileiro nos trilhos –colocar, e não colocar de volta – não nos interessa discutir nesse momento. Voltando à questão da inclusão social, a primeira pergunta é: qual é o objetivo dos programas de inclusão (ou assistencialistas)?

Em primeira análise, o objetivo é ajudar aqueles que, por razões diversas, não atingiram um nível aceitável de sucesso econômico a engatarem com a marcha da sociedade, dando-lhes dinheiro ou outra comodidade direto dos cofres do Estado.

Quanto à aplicação da inclusão social, questionemos primeiro os aspectos práticos: não sabemos todos que a máquina estatal é uma das instituições mais ineficientes que existem? Quantos recursos são desperdiçados com burocratas altamente desnecessários colocados lá por serem amigos de alguém, e quem garante que o sofrível planejamento estatal está levando a assistência para onde ela mais é necessária? E, por outro lado, vivemos em uma democracia representativa em que cargos político-administrativos têm remuneração (um tanto invejável), e portanto é quase certo que o assistencialismo seja usado para recrutamento de eleitores – um “mensalão do povo”. O fato de que os políticos brasileiros corrompem a população carente com tão pouco mostra o quão grave é a falência econômica e educacional das camadas mais excluídas da população.

Além de todos esses aspectos práticos negativos, devemos questionar também o princípio moral do assistencialismo estatal. Apesar de a tendência hoje ser aceitar intervenção estatal em vários aspectos de nossas vidas, principalmente econômico, é bom lembrar que existem limites para a ação coercitiva dessa instituição.

Os recursos utilizados pelo Estado vêm, apesar de muitos gostarem de esquecer, do suor e do sangue de cada um sob seu poder, por meio de coerção (impostos). Como servo de todos e cada um sob sua jurisdição, a ação estatal deveria ser direcionada à preservação dos direitos básicos de todos: vida, liberdade e propriedade. Quando os recursos, coletados à força, são usados em beneficio de um ou de outro, os direitos daqueles que pagaram impostos estão sendo violados, duplamente. Como a tentação é muito grande, a história dos Estados tem sido a de uma violação atrás da outra, desde que os iluministas, e em especial os Pais Fundadores americanos, estabeleceram o que seria o Estado ideal (mínimo).

O que deveríamos fazer então? Deixar os excluídos morrerem de fome, doenças e frio? Seria moralmente condenável, dispondo-se dos meios para evitá-lo. Um mito popular espalhado pelos socialistas é de que os liberais odeiam os pobres, pois não admitem caridade. Nada mais mentiroso – qualquer um com resquício de bondade deveria evitar que alguém morresse de fome. Os liberais aplaudem a caridade voluntária, e condenam o assistencialismo estatal.

sábado, outubro 07, 2006

Síndrome de Policarpo Quaresma

Em agosto de 2000, o deputado Aldo Rebelo propusera um projeto de limitação dos estrangeirismos, alegando que o inglês nos era imposto de maneira a limitar nosso enriquecimento cultural com a criação de novos termos em português. E ele mesmo ficou envergonhado ao citar a palavra “outdoor” numa entrevista, logo corrigindo para “cartaz grande”. E não foi o primeiro nem o último nacionalista lingüístico a fazer tais críticas, sendo que em 1920 já existiam, na época voltadas ao uso do francês e ao português (mal) falado pelos imigrantes, principalmente italianos. E do mesmo jeito que Aldo Rebelo, nossa intelectualidade sempre quis impor (e ainda quer impor) a invenção de termos em português para essas palavras novas que vinham do exterior.


Afinal, por que a intelectualidade brasileira faz tais críticas? Os estrangeirismos são usados sem problemas pela maioria da população, e estão bem difundidos mesmo no português coloquial. Hoje, a grande maioria desses termos tornaram-se indispensáveis para o prosseguimento da nossa rotina diária, e querem baixar um decreto nos impedindo de usar palavras estrangeiras? Isso sim é que é uma imposição, em contraste com a assimilação espontânea de estrangeirismos.


Voltando aos anos 20, lá tínhamos o uso de palavras do francês. Vocês percebem que hoje não temos mais? O que aconteceu? Um fenômeno lingüístico que faz parte do intercâmbio cultural sofrido pelo Brasil, o chamado aportuguesamento. Hoje, palavras como abajur, sucesso e constatar eram condenadas pela elite intelectual, mas graças ao aportuguesamento lento e gradual, sem nenhuma interferência, essas palavras vieram a ser integradas ao português. O que os lingüistas queriam na época era aportuguesar tudo por decreto, mas leva-se um bom tempo para que uma palavra estrangeira seja aportuguesada e torne-se popular na população. Somente com o consentimento e uso comum pela população uma palavra pode ser oficializada, e não é um decreto ou uma intelectualidade nacionalista que irá determinar se uma palavra deve ou não ser usada.


Fazendo uma análise mais global, percebemos que nenhum idioma no planeta deixou de sofrer influências de outros idiomas. O inglês que hoje é dito como imposto, surgiu de profundas influências francesas, nórdicas e latinas na língua germânica que era o anglo-saxão. O árabe influenciou muitas línguas sul-européias, o russo sofreu influência latina, e por aí vai. Os idiomas não são estáticos, mas dinâmicos, estão sob constante mudança, e esse processo nunca parou de acontecer.Acontece hoje mesmo, ainda que haja oposição por parte de projetos como o de Aldo Rebelo.


Ao banir os estrangeirismos estamos rejeitando a principal característica que distingue o português brasileiro do português falado em Portugal: sua adaptabilidade. O português do Brasil é notável por sua informalidade e sua flexibilidade, o que faz com que seja uma língua única, que se constrói a partir de sincretismos lingüísticos. Afinal, nosso idioma é tão miscigenado quanto nossa própria cultura, e tirar a flexibilidade do nosso português faz com que se descaracterize uma porção formadora da cultura brasileira, indo contra a lógica miscigenadora que sempre regeu nossa evolução cultural e lingüística.


Vocês se lembram do movimento antropofágico motivado pelo modernismo? Este movimento incentivou a integração de variadas influências literárias às obras brasileiras. Era justamente uma reação à essa recolonização lingüística que a elite parnasiana pretendia. Retornar o português do Brasil aos padrões formais lingüísticos e culturais de Portugal era inaceitável, pois como já foi dito, o português falado do Brasil é tipicamente informal. O Brasil nasceu como uma cultura miscigenada, e essa miscigenação nunca vai acabar. Valores de fora sempre serão agregados e adaptados ao Brasil, de modo que leva-se tempo para que o processo de adaptação se complete.


Toda essa rejeição aos valores culturais de fora nos remete ao personagem Policarpo Quaresma, de Lima Barreto. Policarpo era um visionário radical, que defendia que o Brasil podia ser totalmente auto-suficiente, na questão cultural, econômica, política e lingüística. Junto com outras propostas estapafúrdias, ele propôs o ensino e a imposição do tupi-guarani como idioma oficial do Brasil. Além disso, foi frustrado em todas as suas outras teses, e no final acabou sendo fuzilado pelo governo de Floriano Peixoto, este que foi seu amigo até o momento em que Policarpo fez oposição a seu governo. Parece que a intelectualidade brasileira nacionalista sofre de um caso grave de Síndrome de Policarpo Quaresma. O que eles precisam é de uma injeção de realidade para perceber que nenhum país no mundo conseguiu ser culturalmente auto-suficiente, nem tentando muito. Eles precisam entender que é um processo normal e contínuo, e que todas essas influências serão digeridas com o tempo.


Quando José de Alencar escreveu “Senhora”, acentuou a palavra na primeira edição (“Senhóra”), valorizando a pronúncia da palavra no português do Brasil, em contraste com a pronúncia de Portugal (“Senhôra”).Desde então, nosso idioma tem se diferenciado de Portugal com a integração de palavras novas que com o tempo foram aportuguesadas, ao contrário do que fez Portugal, que criou palavras em português mesmo para as novas palavras. Em Portugal, para ler este texto você estaria manipulando o rato, não o mouse. Qual palavra você se sente mais confortável para falar? A maioria da população ainda se sente confortável falando mouse. Se nosso idioma deve ser mudado, que seja por evolução gradual e natural, seguida de um estudo lingüístico, ao invés de um decreto, este sim imposto, em contraste com os estrangeirismos.



Semana Cultural: Os Caminhos da Doutrinação

Nota da Carta Liberal: A Semana Cultural foi 4 dias de palestras com palestrantes escolhidos a dedo pela Área de Sociedade e Cultura do CEFET-SP, tradicional escola da zona norte de São Paulo. Esperamos que com esse artigo responda ao questionamento do internauta Leonardo. (Pela imagem já podíamos imaginar o que viria pela frente!)

O ensino será ministrado com base nos princípios da liberdade – de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber – e do pluralismo de idéias e de concepções pedagógicas.

Constituição Federal, art. 206, II e III

Como diria o ditado, de boas intenções o inferno está cheio. A idéia de criar uma Semana de Arte Cultural com enfoque na América Latina é extraordinária. Conhecer quem está tão perto de nós, mas sobre os quais pouco sabemos é uma idéia um tanto quanto interessante e empolgante. Mas ao término da semana que conclusões pudemos tirar sobre ela?

A palestra com o senhor Alejandro, do Exército Zapatista de Libertação Nacional foi uma das maiores demonstrações da doutrinação ideológica. Não simplesmente por sua exposição. Alejandro mostrou seu ponto de vista, o de alguém que já fez parte de tal movimento. Fez duras críticas ao governo mexicano e, entre muitas outras coisas, o famoso e popular imperialismo norte-americano e o demônio do Bush. O problema não está aí. Está no fato de que tudo isso ficou sem resposta. Se houvesse uma outra palestra mostrando o outro lado da história ou, melhor ainda, um debate entre duas pessoas com visões opostas, seria bem diferente, bem mais próximo do ideal. Mas da forma como foi feito, Alejandro e EZLN passam a ser vistos como os salvadores da pátria e donos da verdade, a única opinião possível e aceitável. E até agora há quem se pergunte se ele foi apresentar um tema ou vender livros.

Os filmes não podiam deixar de dar mais um passo para a doutrinação. Exemplos como “A Revolução Não Será Televisionada”, “Machuca” e “Diário de Motocicleta” ajudam a dar uma idéia de quão lamentável foi a semana. É uma pena que esse tipo de prática seja tão comum numa escola que tenha um potencial tão grande, tanto por parte dos professores quanto dos alunos. Essa capacidade dos professores torna a situação mais grave ainda, pois é uma prova de que é feito conscientemente. Lástima.

Porém, o pior momento das atividades culturais ainda estava por vir. Foi convidado um grande sociólogo brasileiro, senhor Chico de Oliveira. Durante sua exposição, tentou levar a palestra da melhor maneira possível. Todos atentos e gratos por estarem vendo um grande intelectual brasileiro. Até que chega um sujeito fazendo barulho com toda altivez. Já dava para ver que boa coisa não sairia dali. Depois de algumas perguntas da platéia, o indivíduo pede para tomar a palavra. E a partir daí não preciso dizer mais nada. Poucos foram os que não se indignaram. Uma invasão. Chega a ser nojento o ocorrido. Diante de um profissional sério, aparece alguém que não sabíamos se era um professor ou um comediante (de péssimas piadas, por sinal).

Mas, ainda assim, foi possível encontrar um ponto alto nessa história toda. Os músicos foram brilhantes, muita gente que nunca tinha tido oportunidade de assistir música de qualidade ao vivo apreciou admirada às apresentações dos próprios alunos, “companheiros de trabalho”. Como diria Machado, “Dessa terra e desse estrume é que nasceu uma flor”. Essa flor foi a música. Mas, infelizmente, a única.

De fato, não era de se esperar imparcialidade (ao menos uma tentativa) numa escola que durante todo o ano doutrina seus alunos e não se envergonha por isso. Pelo contrário: gosta, aprova e até busca. E, pior ainda, os alunos gostam dos doutrinadores. Não há dúvida de que é uma variante da “síndrome de Estocolmo”, na qual se estabelece uma relação afetiva entre estudantes e seqüestradores intelectuais.

Que pena!